Zenaide Parteira

Seringal Fortaleza, 1957
Tarauacá | Acre

Ainda em seu município de origem, Maria Zenaide de Souza Carvalho herda o dom de sua mãe como parteira tradicional e aos 10 anos de idade pela primeira vez uma criança vêm ao mundo através de suas mãos, somando hoje mais de 280 partos os quais registra os nascimentos em um caderno. Descendente da cultura Kampa, povo Ashaninka, aos 11 vai para o município de Tarauacá em busca de estudo onde se aperfeiçoa em alfabetização, tendo trabalhado com um grupo de cerca de 60 adultos já em sua primeira turma, alfabetizando todos. Em meados de 1994 faz seu primeiro curso oficial de parteira, logo depois, viaja para o estado de Pernambuco onde faz uma especialização na área. Mudou-se para Rio Branco e logo se fez notada como liderança do movimento das parteiras visando o emponderamento das mulheres e a busca de direitos. Além dos partos propriamente ditos ela também repassa à mulheres carentes nas zonas rurais do Acre saberes empíricos adquiridos de seu contato com a natureza e saberes familiares. No acompanhamento dos partos, utiliza conhecimentos tradicionais da floresta, como a infusão de chás, sucos para acalmar e o famoso chá de pimenta-do-reino para fortificar a parturiente. Atribui seus saberes à natureza, à paciência e muito carinho para que tudo ocorra bem. Marcada por uma das faces mais cruéis da violência machista, em uma tentativa de estupro, dona Zenaide foi agredida com um soco e perdeu a visão do olho esquerdo. O sorriso em seu rosto contrasta com a dura realidade de sua história, fortalecendo sua luta contra a cultura de inferiorização da mulher. Guerreira, com suas mãos faz o que está ao seu alcance 

para transformar a vida à sua volta. A expressão da arte é instrumento de fortalecimento e voz para sua luta, sendo uma grande compositora. Suas músicas versam sobre a luta das mulheres, o trabalho das parteiras, a natureza, o amor e tantas outras poéticas da vida junto da floresta, envolvendo ritmos como baques de samba, marcha e cordéis, busca inspiração em cada parto realizado, em suas próprias vivências e nas histórias que ouviu. Atualmente, mora no sítio da Comissão Pró-Índio do Acre (CPI), onde é caseira junto de seu marido. Ela sonha com o fortalecimento do movimento das parteiras, por meio da luta pela melhoria de direitos e autossustentabilidade desse segmento.

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